Após a paralisação dos caminhoneiros gerar uma crise de combustível e alimentos em todo país, órgãos de proteção ao consumidor saíram em defesa do que chamam de “preço justo”. Essa operação consiste em fazer batidas em estabelecimentos, principalmente em postos de combustível, para prender ou multar comerciantes que estejam aumentando seu preço sem uma justificativa tida como justa pelos burocratas.
Sempre que desastres naturais, greves ou paralisações como a dos caminhoneiros, acontecem, recursos limitados como combustível e alguns alimentos acabam em dias, mesmo que, em condições normais ou de uso racional pudessem durar semanas ou meses.
A consequência dessa corrida é muita gente ficando sem enquanto outros estocam. Essa reação pode parecer exagero mas esse é um comportamento bem racional e explicado no artigo “Tragedy of the commons” “(Tragédia dos bens comuns)” do ecologista e teórico dos jogos, Garret Hardin.
Segundo Hardin, em uma terra pública onde um grupo de pastores cultivam suas vacas, todos colhem o benefício individual e distribuem igualmente a degradação do pasto. Porém, se um pastor resolver adicionar um animal a mais, ele proporciona a si um lucro adicional e no geral, a pastagem diminuiria distribuindo o prejuízo por todos. Dessa forma, é perfeitamente lógico que todos outros pastores queiram colocar um animal extra.
Em breve, todos terão um animal a mais, a terra se tornará super povoada e não haverá mais pasto sobrando, conseqüentemente gerando a crise de recursos prevista pelo dilema dos bens comuns.
Situações de crise como a vivida no mês de maio na manifestação dos caminhoneiros pode disparar o mesmo gatilho. Se todos comprassem apenas a comida e o combustível que precisam ou o mínimo necessário, muito mais pessoas seriam atendidas por muito mais tempo.
Em sua análise sobre governança econômica, especialmente os comuns, a Nobel de economia Elionor Ostrom, desenvolveu um estudo mundial de grupos de recursos comuns (CPR).
A conclusão de seu trabalho foi que grupos são capazes de evitar a tragédia do dilema dos bens-comuns sem exigir regulamentação de cima para baixo se algumas condições forem cumpridas sendo as principais delas; definição de limites claros, Igualdade entre benefícios e custos, resolução rápida e justa de conflitos e autonomia local.
Voltando ao caso dos pastores, se dividíssemos o pasto em propriedades cada um poderia colher o seu próprio benefício ao mesmo tempo que ficaria com o próprio prejuízo, dentro do seu próprio pasto e dessa forma, não prejudicaria os outros.
Na crise do combustível, a melhor solução é dar autonomia para as partes ajustarem o custo do produto de acordo com a procura. Garantindo assim que apenas quem realmente precisa de combustível, e esteja disposto a pagar ainda vai encontrar produto para comprar.
Fabricio Coimbra Ribeiro
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